"O que é normal é Alfama ganhar o concurso das marchas"
Cármen Maria Paiva, 77 anos, estranhou não ter ouvido barulho nas ruas depois de ter sido anunciada a vitória de Alfama no concurso das Marchas Populares de Lisboa deste ano. Só depois se apercebeu de que estivera a sonhar. "Quando acordei e liguei a televisão, às nove da manhã, é que vi que Alfama tinha ganho", recordava ao início da tarde de ontem, justificando-se com o facto de se ter deitado às 05.00 e não ter presenciado a festa que acabaria por invadir as ruas uma hora depois.
"O que é normal é Alfama ganhar", exclamava, por volta das 14.00, uma moradora, em jeito de desvalorização do facto de o título ter sido recuperado ao Alto do Pina, vencedor das edições de 2011 e 2012. "Mostrámos a toda a gente que somos capazes de ganhar sem o Carlos Mendonça", explicou ao DN a ensaiadora do conjunto, Vanessa Rocha, numa referência ao coreógrafo que, durante duas décadas, orientou aquele grupo popular, sagrando--se campeão por 12 vezes.
A lisboeta foi, durante 19 anos, uma das suas pupilas, tendo assumido o papel de ensaiadora em 2010, quando aquele que, dado o seu palmarés recheado, é conhecido como "Mourinho das Marchas", foi padrinho do conjunto, antes de se mudar para o Alto do Pina. Na noite de quarta-feira, Vanessa e os seus marchantes levaram finalmente a melhor.
Em comunicado, a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), organizadora do evento, informa que Alfama ficou em primeiro lugar com 254 pontos, tendo ainda conquistado os prémios de melhor coreografia, cenografia, figurino e desfile na Avenida. Em segundo lugar do concurso geral ficou o Alto do Pina e, em terceiro, a Bica. Já as categorias de melhor letra e composição original foram ganhas por São Vicente e de melhor musicalidade por Marvila.
Os resultados foram divulgados depois de ter terminado o desfile na Avenida da Liberdade, que começou por volta das 21.00 de quarta-feira e terminou já de madrugada. A primeira exibição "a sério" acontecera no sábado, no Meo Arena (antigo Pavilhão Atlântico). Alfama homenageou o passado, debruçando-se sobre as profissões do bairro, como as lavadeiras e os aguadeiros, num tema que não é inédito.
"Fui marchante em 1988: recriámos o tempo das lavadeiras", recordou Ana Maria, conhecida por Anita, sem esconder a sua alegria pela vitória. O contentamento era quase tão grande como o cansaço de Catarina Gonçalves, uma jovem marchante que, na companhia da tia, assistia à festa na rua, já a perder força depois de uma longa noite. "É muita felicidade", sintetizou Regina Borges.
Ainda assim, alertou Cármen Maria Paiva, "isto não é como os clubes de futebol". "Eu não sou fanática: digo sempre que ganhe o melhor", garantiu. Em 2013, o melhor, ditou o júri, foi Alfama.